terça-feira, 7 de junho de 2011

pedaços.

Eu nunca recebi buquê de flores, nunca ganhei cesta de café da manhã e nem ursinho de pelúcia. Nunca tive festa surpresa, nunca tive LEGO e nem aqueles brinquedos que toda criança tinha. Minha barbie era sempre a negra ou então era Suzy. As roupas que eu ganhava eram sempre azuis e as da minha irmã eram rosas. A única flor que ganhei foi uma orquídea, e se era pra ser eterna, minha cachorra comeu. Eu sempre sonhei em ter uma casa gigante com muito conforto mas moro num apartamento e divido o quarto com minha irmã. As duas maiores dores que senti na vida foram a perda da minha mãe e da minha cachorra. Eu nunca quebrei um osso do corpo, só trinquei com 15 anos o dedão do pé e nunca usei muletas porque meu pai achava desnecessário e gostava de me ver pulando numa perna só. Já derrubei meu véio no chão, já corri dele, já derrubei a árvore de natal jogando um pedaço de bolo. Já apanhei muito da minha mãe de cinto e chinelo mas se não fossem essas porradas, eu não seria o que sou hoje. Eu gostava de Nsync a Backstreet Boys e a primeira banda que eu ouvi depois que larguei esse gosto musical foi Green Day. Acordava ouvindo Carpenters com minha mãe e ia dormir ouvindo Pink Floyd dos meus irmãos. Enquanto minha véia vendia cachorro quente na esquina de casa eu cozinhava miojo e nuggets pra ela porque sabia que ela não aguentava mais comer cachorro quente. Eu sempre andei com meninos, já fui derrubada de bicicleta, já caí com os 2 joelhos numa rua de pedregulho e fiquei uma semana sem dobrar as pernas. Já bati em pessoas e não me orgulho disso. Nunca reprovei e sempre briguei com as pessoas. Já fui chamada de revoltada pela minha mãe mas também já fui muito admirada por ela por ser assim. Já derrubei muita gente jogando bola e já arranquei um pedaço do dedão brincando de escorregar no azulejo molhando com sabão. Já chorei muito nos cantos com saudades de muitas coisas, já comi até passar mal e já tentei me matar. Já fumei maconha. Já vomitei no meu pai. Já sofri muito por amor, ou pseudo-amor, mas nunca deixei de me amar sobretudo.

Mas se não fossem por essas coisas todas, talvez eu não seria essa porra-louca consciente que eu sou hoje em dia.. E agradeço por ter passado por tudo isso, embora eu ainda sonhe em ganhar uma cesta de café, um buquê de rosas e uma festa surpresa ..

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